Retorno a Dominária: Episódio 1
Estamos muito felizes em lançar uma nova iniciativa de história no Magic: The Gathering.
A partir desta semana, com o primeiro episódio de “Retorno a Dominária,” vamos entregar trabalhos de ficção escritos por autores bem conhecidos do gênero de fantasia, que trabalharam de perto com nossa equipe de narrativa para dar vida a nossos planinautas e planos de existência.
Nossa nova história, “Retorno a Dominária,” é uma obra escrita por Martha Wells. Nós adoramos trabalhar com a Martha, que escreve fantasia já há 25 anos e é autora de muitas séries de fantasia de sucesso. Seu trabalho mais recente, The Murderbot Diaries: All Systems Red, já ganhou o Alex Award deste ano e está indicado para o Philip K. Dick Award, que será entregue no fim deste mês. Ela fez um trabalho fantástico com essas histórias desde o ano passado, e estamos muito felizes em finalmente poder começar a compartilhá-las com vocês!
Ao longo do próximo ano, temos um plantel de mais autores de fama mundial, assim como ela. Essa primeira história é uma versão inédita sobre o passado fundador do Multiverso, que será logo seguida por uma saga épica que será contada em uma série mais longa de episódios.
Esperamos que vocês estejam tão entusiasmados quanto nós estamos, com a oportunidade de ver essas vozes fortes trazendo seus talentos substanciosos para o Magic Story. Aproveitem!
i.
Sadage, clérigo da Cabala, encaminhou-se pelas portas do salão alto da Fortaleza. Fumaça de tochas e incensários formava uma nuvem sobre os cultistas espalhados pelo chão de pedra. Eles imploravam para entrar no salão, imploravam pelo favor do Herdeiro da Escuridão que estava lá dentro.
Um grupo de discípulos com robes escuros se aproximou pelo outro lado até o encontro de Sadage, caminhando entre os suplicantes que gemiam. Ele reconheceu a líder como sendo Agulha, agente da Cabala que tinha a tarefa de infiltrar-se em Novo Argivo. Quando o grupo se aproximou dele, eles se ajoelharam. “Você voltou,” disse Sadage. “Espero que o motivo seja importante.”
Em resposta, Agulha desenrolou uma espada grande e negra, segurando-a em reverência para que Sadage a aceitasse. “Trago um presente para o Herdeiro da Escuridão.”
“Um presente?” Sadage estendeu a mão para tocá-la, com um suspiro entre as pontas de suas luvas e o metal negro. Um miasma escuro estava preso à lâmina. “O que é isto?”
Agulha olhou para ele em reverência, com olhos arregalados e pupilas negras dilatadas. “Uma lâmina de lendas, que bebe almas. Quem forjou esta espada matou um dragão ancião e absorveu sua força—”
Sadage interrompeu: “Pare.” Assim tão perto do salão de devoção e de seu resplandecente morador, ele não poderia deixar a disciplina escorregar por entre os dedos. “Quem a utilizou para matar um dragão ancião?”
Agulha hesitou. O discípulo ao lado dela disse “Dizem que foi o planinauta Dakkon—”
Sadage fez um gesto ríspido. ”Foi Belzenlok! Belzenlok a forjou. Belzenlok matou o dragão ancião. Belzenlok.”
Em um coro murmurante, o grupo de discípulos repetia obediente “Foi Belzenlok, Senhor dos Ermos, Belzenlok, Matador de Dragões Anciões.”
Agulha adicionou, “Esta é a espada dele. Belzenlok, Rei de Urborg, o Senhor Demônio. Estou devolvendo-a para ele.”
”Muito bem.” Sadage tomou a espada das mãos de Agulha. O contato fez com que sua pele queimasse mesmo usando luvas. “Você ganhou sua recompensa.”
Agulha sorriu, tremendo ao se levantar. Ela puxou seu capuz para trás, desnudando sua garganta. Sadage ergueu sua mão e conjurou o feitiço. Lentamente, a pele de Agulha foi se soltando do peito enquanto a mágica violeta gentilmente perfurava seu coração.
Enquanto Agulha se retorcia em uma morte exultante, os outros discípulos assistiam com reverência ciumenta. Sadage abriu as portas para o salão de devoção, pronto para apresentar a lâmina negra de volta para o mestre que a escolhera, pronto para coletar sua própria recompensa final do Senhor Demônio.
ii.
Jhoira se inclinou para a frente sobre o timão de controle de sua nau submersa e suspirou, “Ali.” Ela puxou uma alavanca para parar de se mover para a frente. Fora uma escolha artística dar a forma da nau submersa como se fosse um peixe enorme com escamas de metal, barbatanas de locomoção e duas portinholas arredondadas na proa como se fossem olhos gigantes, mas ela se movia pelas correntes difíceis do mar como um sonho.
Fora das portinholas, havia peixes prateados que tremulavam pela água arenosa, confusos com os focos de luz e o estranho peixe de metal que atravessava a floresta de algas. Hadi, seu artífice-assistente, segurou o guarda-mancebo quando a nau deu um pulo com a corrente. Ele se inclinou para olhar pela segunda portinhola. “Onde?” Era um homem aparentemente mais velho, vindo de Jamuraa para a Academia Tolariana. O fato de ele ter concordado em ajudá-la nesta demanda insana dizia muito sobre o senso de aventura dele.
Jhoira ajustou o timão com mais cuidado e apontou; seu dedo quase tocava o vidro curvo. “Lá, está vendo?” Parecia óbvio para ela; a longa espinha dorsal semienterrada pelo lodo e plantas aquáticas era reta demais para qualquer formação natural - pelo menos nesta baía. Mas ela conhecia aquela forma tão bem, então era como se reencontrasse um velho amigo.
“Seus olhos são bons,” disse Hadi, puxando o tubo de comunicação para ela. “Pensei que tinha sobrado mais.”
“Não depois desse tempo todo.” Jhoira tomou o tubo de comunicação e falou dentro dele: “Ziva, estou apontando minhas luzes naquela direção. Você vê?”
O tubo fazia sua voz viajar pela água, transformada em vibrações que os tritões Vodalianos conseguiam compreender. Lá fora, Ziva nadava além da portinhola, e o lodo na água turvava os tons de púrpuras e azuis da armadura natural em seus braços e flancos. Ziva pausou por tempo suficiente para sinalizar que assentia na direção da portinhola. Depois, com um movimento poderoso de cauda, ela desapareceu em meio à água turva.
Jhoira esperava pelo veredito, tentando não pular com toda a tensão como Hadi estava fazendo. E então Ziva reapareceu e nadou para perto do peixe de metal até bater de leve contra o casco. Sua cauda encaracolou ao passar pela portinhola e Jhoira a ouviu mexer do lado de fora até encontrar o tubo de comunicação. E então a voz de Ziva foi transportada para dentro do compartimento. “Está em uma plataforma de areia, preso pela areia e pelas algas salinas, mas sem rochas,” relatou ela. “Não deve ser problema erguê-lo até a superfície - se o preço ainda for o mesmo.”
Sim, como eu esperava! pensou Jhoira. Era difícil conter seu júbilo, mas eles tinham muito trabalho a fazer. “Eu dobro o preço se você conseguir erguê-lo dentro de dois dias,” disse ela para Ziva. A tritã precisava de dinheiro e Jhoira não via problema em pagar por algo que culminaria anos de trabalho e planejamento cuidadoso.
A risada de Ziva tinha o som de água borbulhante. “Consigo em um dia!”
Jhoira recostou-se no couro desgastado da cadeira de piloto. A combinação inebriante de alívio e propósito renovado lhe dava vontade de dançar. Depois, ela prometeu a si mesma. Quando estivesse de pé na praia ao lado dela, ela dançaria. “Eu sabia que conseguiríamos.”
“Você sabia,” disse Hadi, com um tom exultante. “Não tenho certeza de que mais alguém acreditava que seria possível!”
“Bom, agora vão acreditar,” disse Jhoira. Os demais tritões arrebataram o mar para se unir a Ziva, deslizando e formando padrões em torno dela enquanto aguardavam suas ordens. “Todos prontos?” Perguntou Jhoira no tubo de comunicação. “Agora, nós resgatamos o Bons Ventos."
iii.
Dominária coalesceu em torno de Gideon e a primeira coisa que o chamou atenção foi o fedor de plantas apodrecendo na terra úmida. Ele estava de pé em uma fundação alta de pedra entre uma cidade arruinada e um charco malcheiroso em crescimento excessivo, a paisagem desolada sob um céu nublado. Estruturas de pedra cinzenta que foram outrora altas e graciosas tinham segmentos de paredes e telhados faltando, e algumas delas eram apenas amontoados de pedra desmoronada. A névoa cobria a grama alta, as poças de lama borbulhantes, e as árvores apodrecidas do charco vazio e abandonado pela vida, exceto por nuvens de insetos. Era como se fosse a tentativa artística de capturar visualmente uma representação de morte e fracasso. Ele não conseguiu suprimir o pensamento amargurado: que adequado para este momento.
A segunda coisa que Gideon notou foi o furo em seu ombro e a dor lancinante. Ele respirou fundo e não entrou em colapso sobre a pedra enlameada. Liliana, Chandra e Nissa estavam ali perto, desarrumadas e estremecidas pela batalha. Agora não era a hora certa para ele mostrar fraqueza. Ele controlou sua voz para parecer moderada e admitiu: “O plano não deu certo.”
“Ah, é mesmo?” Liliana virou-se para ele, fingindo estar surpresa. “O que te faz dizer isso? Foi o rio de mortos-vivos onde quase me afogaram? Ou foi Nicol Bolas te estapeando como se fosse um brinquedo?”
Gideon sentia dor demais para dar uma resposta inteligente. Além disso, ela tinha razão. Ele estava ali, ferido, mal conseguindo ficar de pé, e ele perdera seu sural. A derrota foi absoluta, o desequilíbrio de suas forças era díspar além de qualquer esperança, e eles tinham sorte em ter sobrevivido. A sensação de quantos outros não tiveram a mesma sorte era um peso nauseante no coração dele.
Chandra esfregou os olhos. “Cadê o Jace?”
Assustado, Gideon olhou em volta mais uma vez. Ela tinha razão, não havia sinal de Jace. “Ele não está mais em Amonkhet. Eu vi ele sair.”
Liliana cruzou um olhar com Gideon. Todos sabiam onde deveriam se encontrar. A ausência de Jace não era um bom sinal. Ela apertou os lábios e depois disse: “Talvez ele tenha se atrasado.”
“Ele não vem.” Nissa remoeu as palavras, com voz rouca. “Ele desistiu.”
“Ele não faria isso.” Gideon tinha certeza. Jace não os abandonaria.
Nissa o ignorou, raivosa demais para ouvir. “Um plano de existência praticamente destruído. Tanta morte.” Ela balançou a cabeça com nojo. “E nós caímos direitinho nas mãos do Nicol Bolas!”
Chandra abaixou seus ombros e olhou para longe. “O Ajani tinha razão. Nós nunca devíamos ter ido até lá.”
“Nós tínhamos que tentar-” começou Gideon.
Liliana virou-se para Nissa, calma e racional. “Não foi um desastre total; nós matamos Razaketh. Já o resto . . . Não tinha como anteciparmos-”
“Sim, nós matamos seu demônio,” Nissa interrompeu com rispidez. “Você conseguiu o que queria e fugiu. Você não liga se vamos derrotar Nicol Bolas, você só quer nos usar e se libertar dos seus pactos.”
“É claro que eu quero derrotar o Nicol Bolas!” Protestou Liliana. “Eu fugi para salvar minha vida - assim como o Jace fez, logo antes.”
Nissa insistiu, “E por que vir para cá?” Ela lançou um braço para o lado, gesticulando na direção do charco morto. “Como você quer que nós arrisquemos as vidas por você aqui?”
“Seu precioso Ajani sugeriu que nos encontrássemos aqui,” disse Liliana, ofendida.
Gideon notou que ela não respondera à pergunta, e ele tinha um péssimo pressentimento sobre o porquê. Mas ele disse “Nissa, agora não é hora. Estamos todos exaustos-”
Chandra disse em monotom, “Seu último demônio tá aqui, não tá, Liliana?”
Liliana hesitou, e seu olhar calculista passava de Chandra a Nissa, mas ainda assim ela não teve a audácia de protestar. Ela endureceu o maxilar e disse: “Belzenlok está aqui.”
Gideon deu um suspiro resignado. Mas é claro que está. “Nissa—”
Liliana caminhou na direção de Nissa. “Se eu não estivesse restrita pelo meu pacto, teríamos destruído Nicol Bolas em Amonkhet.” Com um tom persuasivo, ela adicionou, “Eu consigo matar Belzenlok - mas você é a única pessoa poderosa o suficiente para me ajudar.”
Gideon se retraiu. Era visível que Nissa não estava afim de receber elogios, e era um atestado do desconcerto de Liliana pensar que isso funcionaria. “Liliana—”
Chandra fez um muxoxo de desdém. “Você quer usar a Nissa. Igual você quis me usar. Achei que éramos amigas, Liliana.”
“Chandra, você não está ajudando,” disse Gideon.
Liliana ignorou os dois. Falando somente com Nissa, ela continuou: “Belzenlok é adorado aqui pela Cabala, um culto da morte. Você pode despertar os ents do que restou de Yavimaya em Urborg e invadir a Fortaleza onde ele se esconde. E eu posso usar o Véu Metálico para matá-lo.”
Gideon retorceu a face. O Véu Metálico, um artefato poderoso dos Onakke, permitira que Liliana matasse dois demônios. Mas ele bebia das forças dela, e ele imaginava que era muito mais perigoso para quem o usava e para todos à sua volta do que ela admitira.
Nissa crispou o lábio. “Não. Eu não vou ajudar você. Eu não fiz um juramento para salvar sua pele.” Ela se virou para Gideon. “Diga a ela. Diga a ela que não vamos deixá-la usar a todos mais uma vez. Diga: ou ela nos ajuda contra o Bolas, ou some.”
Gideon respirou fundo rapidamente, tentando não se retrair com a dor latejando em seu ombro. Trabalhar com Liliana era uma provação até mesmo nos bons momentos, mas eles tinham feito um acordo. “Nós precisamos da ajuda de Liliana para destruir Nicol Bolas, e ela não pode fazer isso até que este último demônio esteja morto.”
Nissa estava incrédula. “Isso vai fazer dela uma ameaça interplanar tão grande quanto Nicol Bolas!”
“Eu não acredito nisso.” Gideon tentou soar calmo e razoável, mas a dor lhe dava um tom a mais. “Ela não está usando a gente, é a nossa melhor chance contra o Nicol Bolas. E não podemos deixar que Belzenlok cause um estrago neste plano de existência. Nissa—”
Espumando de raiva, Liliana disse, “Eu salvei a sua vida, Nissa! É assim que você me retribui?”
“Eu não te devo nada.” Nissa deu um passo atrás, desprezo em cada contorno de seu corpo. “Nenhum de nós te deve. Se o resto está cego demais para notar isso, eu não posso ajudar.” Ela deu mais um passo atrás.
”Nissa!” Chandra a encarava. “Se você não quer ajudar Liliana eu entendo, mas o Nicol Bolas-”
Gideon buscava um argumento persuasivo às pressas, mas a dor espalhava seus pensamentos. “Nissa, você fez um juramento-”
“Não.” Nissa se afastou deles mais um passo, com a face tão dura quanto mármore. “Não consigo suportar ver outro plano destruído antes mesmo de conseguir reconstruir o meu. Desculpem, mas não sou mais uma sentinela.”
Chandra gritou, “Nissa!”
Mas Nissa já estava caminhando para fora daquele plano de existência. Por uma batida de coração sua forma brilhou em luz verdejante, o ar em torno dela repleto das sombras de vinhas e folhas. E então ela partiu, deixando para trás um aroma esvanecente de folhagem verde e de flores.
Eles ficaram ali imóveis, e a brisa úmida mexia em seus cabelos. Liliana olhou para longe, com o queixo cerrado e claramente furiosa. Chandra afundou a face nas mãos e Gideon suprimiu um grunhido. Ele tinha que encontrar Nissa, conversar com ela e convencê-la a voltar, mas a dor lancinante irrompia pelo seu peito com cada respiração.
Então, Chandra ergueu sua cabeça e disse, “Eu também vou.”
“O quê?!” Gideon virou-se para ela, apavorado. O movimento puxou algo em seu ferimento e escorreu sangue pelo lado do corpo. “Chandra—”
“O quê?!” Reagiu Liliana, incrédula. “Tá brincando?”
“Eu não vou desistir,” respondeu Chandra rapidamente, com nada além de determinação em sua face. “Eu nunca desistiria! Mas você tem razão, Gideon. Eu preciso aprender com isso. Nós falhamos em Amonkhet porque eu sou fraca demais!”
Liliana gaguejou “Não é por isso que falhamos-”
Chandra ergueu o queixo. “Eu tenho que ficar mais forte.”
Gideon tentou: “Chandra, quando eu falei em ‘aprender com o fracasso,’ não foi isso que eu-”
“Eu sei o que eu tô fazendo!” Exclamou ela, e antes que Gideon conseguisse respirar mais uma vez, ela se foi. Sua forma desapareceu em uma grande fogueira quando ela caminhou para outro plano.
Gideon fitava o espaço vazio onde suas duas camaradas estiveram. Em algum ponto ele perdera o controle da situação, e ele não sabia ao certo como. E sua cabeça agora latejava, e estava piorando.
Liliana se aproximou dele. “E então? Aonde você vai? Qual é a sua desculpa?”
Gideon deu um suspiro exausto. “Eu vou ficar.” Ele olhou para ela de cima. “Nada mudou. Precisamos que você destrua o Nicol Bolas, e você precisa destruir este demônio.”
“Eu-” ela parou, encarando-o. E então sua expressão endureceu novamente. “Bom. Então vamos começar logo com isso.”
“Precisamos de um plano-” e a dor o perfurava novamente, pior do que antes, como se Nicol Bolas ainda tivesse a garra dentro do ombro dele. Ele trancou o maxilar, respirou através dele, e tentou novamente. “Um plano. Precisamos de-”
Liliana jogou os braços para o alto. “Eu sei que você está ferido, pára de ser um crianção e admite!” Ela xingou baixinho. “Anda, vamos encontrar um lugar para que eu te cure.”
Gideon levou um susto. “Eu não sabia que você sabia curar pessoas.”
“A lista de coisas que você não sabe poderia encher todo o arquivo público de Dominária,” disse Liliana, ríspida. “Agora, anda logo.”
Bom, é um desastre após o outro, pensou Liliana consigo mesma enquanto eles seguiam um caminho de grama alta para dentro da cidade arruinada. Com Nissa saindo raivosa e Chandra saltitando para se encontrar ou qualquer coisa que ela tinha divagado, a estratégia de Liliana estava tão arruinada quanto esta aldeia. E Jace, que sumiu sem dizer uma palavra. Talvez ele não quisesse mais nada com ela . . . Esse pensamento a perturbou mais do que ela queria admitir. Ela o encontraria novamente, o convenceria, mas ela precisava matar Belzenlok primeiro.
Ela olhou de esguelha para Gideon. Aconteça o que acontecer, ela não poderia deixá-lo perceber que ela fugira da batalha, como Nissa a acusara. Ele era tudo o que lhe restava, e ela precisaria da ajuda dele para matar Belzenlok. Mas sua pele morena estava empalidecida, e rugas de dor e tensão estavam entalhadas ao redor da boca dele. Se ele sobreviver. O ferimento do bobalhão deve estar muito pior do que queria admitir.
As botas deles faziam sons molhados na lama e arranhavam ladrilhos quebrados e vidros estilhaçados. A morte cobria essa cidade e o charco em torno dela como se fosse um manto, tecida em meio à bruma que flutuava sobre o terreno úmido. Sombras se moviam naquela bruma, faces que apareciam e desvaneciam. Havia morte por todo o lugar.
Ver este lugar fora mais um choque. Liliana não conseguia acreditar que esta era a propriedade Vess. Se os outros não estivessem ali com ela, ela teria pensado que transplanara para a parte errada de Dominária.
Pelo menos a cidade não estava tão deserta como parecia de início. Alguns dos edifícios de pedra tinham tentativas de conserto, com paredes e tetos remendados, escadarias limpas, e persianas de madeira para janelas altas que outrora foram de vitral. A grama do charco havia sido capinada de alguns pátios, e um deles tinha bodes amarrados. Uma sensação de estar sendo observada fez com que Liliana examinasse um telhado com mais atenção. A forma que estava perto de uma chaminé não era uma gárgula, mas- Não era um anjo, pensou ela. Uma visita da tão santa Ordem de Serra teria sido a última gota sobre esse dia pavoroso e desastroso. Era um soldado aviano fazendo sentinela: a luz nebulosa e cinza brilhava contra sua armadura, as penas brancas e asas dobradas.
Mais à frente, acima dos telhados, a rocha curvilínea de uma ruína antiga dos Thran se assomava acima da bruma, e seus lados lisos foram escurecidos pelo musgo. Ele tinha a forma da cabeça de um machado, como se um gigante o tivesse cravado no solo e o deixado ali. Pelo menos esta era uma visão familiar, uma coisa que não mudara em todas as décadas desde que ela se fora.
Depois da esquina havia um amplo pátio cercado por casas altas, todas sem reparo - mas algumas ainda tinham vitrais cintilando nas janelas estreitas dos andares superiores. De um lado, havia uma fonte e um mercado com algumas barracas de madeira. Perto deste mercado estava um edifício alto e ruidoso, que deve ser uma estalagem. As chaminés soltavam fumaça e as portas estavam abertas. As pessoas ali na frente olharam curiosamente para Liliana e Gideon. Todos estavam armados, mas não se moveram com hostilidade. Gideon fez um aceno de cabeça para cumprimentá-los, e logo depois arruinou o efeito cordial ao puxar fôlego, enquanto retorcia a cara com dor.
Este era o centro da cidade, e parecia estar segurando-se pelos últimos fios de vida; uma sombra pálida do que já fora um mercado movimentado que lhe era tão familiar como a palma da mão. Liliana segurou um xingamento. O que aconteceu aqui?
“O que foi?” Gideon perguntou, em voz baixa.
Liliana fez uma careta. Ela odiava demonstrar fraqueza. “Nada.”
Gideon suspirou. “Se nós vamos fazer isso, vamos ter que ser honestos um com o outro.”
Liliana respondeu ríspida: “Não é nada!” Enquanto ele lhe dava um olhar cético, ela se lembrou de que ele era seu único aliado agora. E no final não havia motivo para esconder o fato. “Não tem conspiração nenhuma, é só que este lugar mudou muito. Da última vez que estive aqui, esta cidade era cercada por uma floresta, e não um charco fedorento.”
As sobrancelhas de Gideon foram descendo ao olhar por todo o pátio. “Qual era o problema em dizer isso?”
“Porque não é nada,” disse Liliana com os dentes cerrados.
“É exatamente o que eu quis dizer-” ele se retraiu e cortou sua frase. “Por que você esteve aqui?”
“É onde eu nasci.” Ela ignorou sua expressão sobressaltada. “Anda, antes que você caia - você é pesado demais para arrastar.”
Liliana nem precisou ameaçar ninguém para conseguir serviços, apesar da estalagem estar funcionando apenas como fachada. O dono da estalagem pareceu francamente assombrado com a ideia de que eles queriam hospedagem ali, mas imediatamente os levou até um quarto no andar térreo - certamente porque Gideon estava deixando uma trilha de sangue e não parecia capaz de subir as escadas.
O dono da estalagem era um homem negro e alto, com uma família abundante que saía de várias portas para espiar os hóspedes enquanto caminhavam pelo corredor. O cômodo era amplo, com uma cama e uma seleção aleatória de mobília embolorada. Liliana direcionou Gideon para um sofá baixo e o ajudou a cair pesadamente sobre ele.
“Faz muito tempo que eu não recebo viajantes,” admitiu o dono da estalagem enquanto preparava a chama da lareira. Uma jovem com roupas práticas de trabalho e uma espada curta embainhada na cintura trouxe um balde de água para encher o caldeirão da lareira. Um menino trouxe uma pilha de cobertores dobrados. Uma menina apareceu com uma cesta de ataduras e suprimentos de cura, e outro menino trouxe uma bandeja com comida e bebida. Apesar do humor péssimo de Liliana, não havia falha alguma no serviço. O dono da estalagem nem havia pedido para ver suas moedas.
“Vou precisar de quaisquer ervas curativas que vocês tenham,” ordenou Liliana. Quando as crianças saíram, ela adicionou “O que aconteceu aqui? Esse lugar . . . Mudou desde que estive aqui pela última vez.”
“Foi a Cabala,” disse o dono da estalagem, ajustando o apoio do caldeirão para que ele ficasse sobre as chamas que aumentavam. Ele adicionou gravemente, “Eles querem dominar o mundo todo.”
Com certeza o homem devia estar exagerando. Liliana tirou a mão de Gideon que tentava remover sua armadura atrapalhado, e desatou as fivelas. Enquanto ele fingia estoicamente que não havia um buraco gigante em seu ombro, Liliana se pôs a limpar o ferimento e aplicar ataduras. Ela sabia que Belzenlok havia suplantado o deus Kuberr para ganhar controle sobre a Cabala, que sua Fortaleza estava agora em Urborg, mas será que eles haviam conseguido se espalhar tanto assim? “A Cabala veio até aqui, então. Até Benália.”
O dono da estalagem assentiu com a cabeça, adicionando mais lenha à lareira. “Lutamos para mantê-los longe de Aerona, mas falhamos. Você viu o que a influência deles fez com a Floresta Caligo ao longo dos anos.” Ele fez um gesto desamparado.
“A floresta inteira?” Perguntou Liliana incrédula, virando-se para encará-lo. “Até o rio?”
“E além. O rio enlameou, intransponível. Agora é o Brejo de Caligo. E eles têm um novo líder por estas partes, um poderoso lich que age como general dos grimnantes. A Igreja de Serra veio ajudar e houve uma grande batalha há apenas alguns dias, mas a Cabala nos derrotou.” Ele ficou de pé. “Vou pegar mais lenha pra lareira.”
A menina voltou com a caixa de ervas curativas da estalagem. “Isto é tudo o que nos resta. A maior parte do nosso estoque foi usada nos soldados que ficaram aqui.”
Passando os dedos pelos pacotes, Liliana a perguntou por impulso: “Alguém aqui se lembra da Casa de Vess?”
A menina parou para considerar a ideia. “Tem histórias de fantasmas sobre a antiga mansão arruinada no brejo, sobre o filho morto-vivo e a filha malvada que fugiu-”
"Não, não." Liliana ergueu a mão para que a menina parasse. Não era surpreendente que os eventos daquele dia se tornassem uma lenda local, mas ela não tinha interesse algum em ouvi-la. “Essa parte eu sei. Eu quero saber da história da família de verdade, e o que aconteceu com eles depois.”
”Não, não que eu saiba.” A menina ergueu o balde de água suja. “Eu posso perguntar por você, se você quiser.”
“Não, não é importante.” Liliana gesticulou para que ela fosse embora. Quando a menina partiu, ela fitou as janelas fechadas com o cenho franzido.
Gideon se mexeu um pouco, piscando e olhando para ela. “O que foi?”
Ela sacudiu a cabeça e deu uma olhadela para os pacotes de ervas. “Eles não têm o que eu preciso, mas deve crescer aqui por perto. Eu vou lá encontrar.” Ele se afundou no colchão, gemendo com a dor de se mover. Ela vestiu um sorriso malicioso para manter o estilo, e adicionou “Não tenha medo que eu não vou te abandonar.”
“Não tenho medo disso,” disse ele suavemente, olhando para ela. “Você precisa de mim para matar o Belzenlok.”
Liliana se viu sem resposta, e duplamente irritada saiu da estalagem.
O terreno mudara tanto... Liliana sabia que talvez estas ervas não mais existissem, mas eram o meio mais rápido para curar Gideon. Eles precisavam criar um plano e lidar com Belzenlok o mais rápido possível.
Passando das ruínas, ela caminhou para dentro do charco. Ela encontrou as ervas em uma ilha mais alta que sobrevivera, e coletou o que precisava. Ela se ergueu, olhando através de um bosquete de árvores cobertas por musgo, e por um momento a estranha paisagem lhe pareceu familiar. Era ali onde ela encontrara o Homem Corvo pela primeira vez.
Você tentou ajudar Josu assim, com estas mesmas ervas, pensou ela, com as memórias daquele dia vindo com uma clareza inesperada. Ela quisera apenas curá-lo, e em vez disso o transformou em um monstro morto-vivo irracional que matou Lady Ana, matou seus servos . . . E então ela fugiu deste plano de existência quando sua centelha se acendeu, abandonando sua mãe e seu pai, toda sua família e seus amigos, e todos que ela conhecia. A magia que animou Josu deve ter sido quebrada quando ela partiu daqui, mas ela nunca pensou sobre o que sua família entenderia da carnificina naquele quarto. Com certeza, eles pensaram que ela morrera. Será que procuraram por ela? Será que eles pensaram que Josu a matara?
Envolta em seus novos poderes como planinauta e tentando sobreviver, ela se recusara a pensar neles desde aquele dia. Faz tanto tempo, e as memórias dolorosas pareciam ser uma olhadela dentro da mente de outra pessoa.
Não seja burra, disse ela para si mesma. A Casa de Vess agora era apenas uma lenda, uma história de fantasmas para divertir as crianças da aldeia. Eles viveram suas vidas, envelheceram e morreram. Nada restaria da mansão além de uma pilha de escombros, sem pistas para descobrir. Mas ela se viu andando, e seus pés passavam por um caminho familiar, enterrado sob toda a lama e grama do charco.
Emoções inconvenientes no caminho de seus objetivos.
Liliana passou por uma plataforma de grama tão alta quanto mudas, e parou abruptamente.
Tinha que ser sua imaginação febril. A casa ainda estava lá.
As árvores retorcidas e vegetação pesada cresceram até as paredes de pedra acinzentada, mas ela conseguia discernir a forma da ala central, a curva da torre mais próxima. Que loucura, pensou ela. Loucura, ou . . .
Ou algum estranho poder em ação.
As portas do salão principal estavam abertas. Foi surpreendentemente difícil se fazer atravessar o campo aberto e subir a escadaria, mas o temor e a necessidade de saber a guiaram.
Ela adentrou. A luz da soleira caía sobre o corrimão entalhado da galeria superior, as tapeçarias estavam penduradas na parede atrás dele, e por um instante pareceu como se a casa estivesse intacta, como era antes. Como se ela existisse em uma bolha onde o tempo não passa, preservada como um inseto no âmbar. Mas então ela respirou e sentiu cheiro de sangue e podridão, e o momento se partiu. Ela piscou uma vez, e viu que as tapeçarias estavam em frangalhos, o entalhe estava quebrado e desbotados pelo tempo. Mas ainda assim, a casa inteira deveria estar arruinada, pensou ela. Alguma coisa fez isso intencionalmente. Para que ela viesse até aqui? Se fosse, podia ser o Homem Corvo, perseguindo-a por entre planos de existência. Mas por quê?
Ela seguiu o cheiro de sangue salão adentro.
Lá, em frente à grande lareira, símbolos foram queimados no chão de pedra, e sua forma e padrão foi obscurecido pelo que devia ter sido poças enormes de sangue, agora secas. Dúzias de velas apagadas cercavam o lugar, e suas gotas de cera derretida obscureciam mais ainda os traços deixados por algum feitiço de necromancia poderosa. Subia um ar gélido do chão, como se fosse um túmulo aberto.
O maxilar de Liliana doía, e ela notou que era porque seus lábios estavam tesos, em um rosnado subconsciente.
O que quer que acontecera aqui não era coincidência alguma.
A noite começara a cair quando Liliana voltou aos limites da cidade. Ela mal começara o caminho pelas ruínas quando sentiu uma onda de malignidade morta-viva. Ela murmurou “Não tenho tempo para isso,” e começou a correr.
Ela ouviu sons de luta antes de alcançar o grande pátio, e virou a última esquina para ver uma cena de batalha.
As bancadas do mercado tinham sido incendiadas e figuras escuras lutavam pelo pátio. A luz do incêndio refletia em lâminas. O povo da cidade foi fácil de encontrar, usando armaduras em retalhos e empunhando clavas e ferramentas improvisadas além de espadas e machados de batalha. Alguns já aviam caído, e o aviano que ela vira no telhado estava morto, estatelado nos ladrilhos, com asas quebradas e retorcidas.
Os invasores usavam armadura negra com partes pontiagudas, o mais diferente possível do branco e prateado com vitrais dos benalianos. Cavaleiros mortos-vivos da Cabala, pensou Liliana com nojo. Deve haver algum clérigo da Cabala por aqui, um cultista humano e vivo para controlar os espectros descerebrados.
De repente Gideon cambaleou das sombras perto da estalagem. Ele rolou, se levantou e se desequilibrou, claramente ainda fraco por causa de seu ferimento. Ele não estava usando armadura e havia sangue manchando suas ataduras e suas roupas, mas ele empunhava uma espada emprestada quando um cavaleiro montado olhou para ele. O cavaleiro usava uma armadura pesada e negra, encravada com pontas afiadas, e estava montado em um cavalo que também usava armadura. Não, quando a criatura olhou abruptamente para cima Liliana viu carne apodrecendo e osso branco nas fendas de sua armadura, e buracos escuros onde deviam ser seus olhos. O cavaleiro não usava elmo e sua cabeça estava coberta por carne empalidecida e magra, e seu cabelo era uma juba branca em putrefação.
Gritos irromperam da estalagem quando as portas se abriram com estrondo. Outro cavaleiro morto-vivo arrastava duas figuras que se debatiam. Liliana reconheceu a jovem e o menino que ajudaram a cuidar de seu quarto. Gideon se lançou para a frente e o cavaleiro montado lançou sua montaria para atropelá-lo.
Ah, você vai ter que fazer bem mais do que isso, Belzenlok, pensou Liliana ao erguer suas mãos. Ela puxou forças dos mortos caídos no ladrilho gelado, dos ossos enterrados nas ruínas, dos cadáveres apodrecendo no charco, e dos fantasmas em meio às brumas. Quando os entalhes em sua pele se acenderam em violeta, raios negros irromperam de suas mãos para atingir uma dúzia de cavaleiros com armaduras negras. Ela caminhou a passos largos para dentro do caos da batalha.
Um espectro a pé avançou contra ela, e com apenas um gesto ela mandou uma nuvem negra irromper do chão. A nuvem segurou a forma que se debatia e a desfez, enquanto o que sobrava de sua armadura caía pelos ladrilhos.
O cavaleiro morto-vivo se chocou contra Gideon, e ergueu sua lança para um golpe mortal. Liliana concentrou sua vontade e a enviou para dentro da criatura na armadura preta.
No instante seguinte, ele era dela. Ela o fez largar a lança e virar sua montaria para longe de Gideon. Ela partiu a conexão da montaria com o poder que a animava. Enquanto ela caía sobre uma pilha de ossos, o cavaleiro caiu desajeitado pelo chão. Ela considerou utilizá-lo contra os demais, mas a dúzia que ela já destruíra virara a maré da batalha. Gideon recuperou o equilíbrio e rasgou os poucos combatentes que ainda haviam próximos a estalagem. Gritando triunfantes, os aldeões sobreviventes se reagruparam para avançar contra os demais.
Liliana ergueu sua mão para destruir o último cavaleiro, mas algo sussurrou na mente dela: O Vazio lhe aguarda.
Liliana congelou, com o coração pulando. E então seus lábios crisparam com desdém. Era um truque. O mestre do cavaleiro morto-vivo tinha de ser o lich que devastara a Caligo para a Cabala, e o lich tinha de ser quem estava por trás da preservação arcana da Mansão Vess. Liliana explorou a ligação, curiosa. Como este lich saberia tanto sobre ela? Seria possível que . . .
Uma imagem da face do lich queimou à frente dela. Era a face de Josu.
Não. O coração de Liliana parou. Não pode ser. “Não!” Gritou ela.
Sua fúria e desalento cortaram a ligação. O cadáver do cavaleiro explodiu e ossos apodrecidos voaram por todo o pátio.
Os populares encontraram o clérigo humano e o prenderam no chão, com uma lança apontada para o peito. Liliana os empurrou para o lado, agarrando o clérigo pela perna e o arrastando até a luz das chamas. Com a voz rouca e enfurecida, ela exigiu: “Onde está o Josu? O que o Belzenlok fez com ele?
Ela tinha uma vaga noção de que Gideon se posicionara ao lado dela, observando-a preocupado.
O clérigo deu uma risada sem fôlego e disse engasgado: “Ele sabia, nosso Senhor Demônio, o Herdeiro da Escuridão, ele sabia que você viria! Ele transformou seu precioso irmão em um servo dele, o comandante de suas forças profanas!”
“Josu serve a Belzenlok,” repetiu Liliana, e o choque fazia com que suas palavras parecessem calmas. O rito de necromancia na Mansão Vess fora utilizado para transformar Josu de um morto-vivo irracional em um lich poderoso, capaz de usar as memórias de Josu e seu treinamento bélico - mas escravo de Belzenlok. Belzenlok está usando meu próprio irmão contra mim, pensou Liliana. O irmão cuja alma ela arriscou com o primeiro uso descontrolado de seu poder.
“Ele serve ao nosso senhor, ele . . ." O clérigo gorgolejou quando o sangue encheu sua garganta. Ele engasgou: “O Vazio lhe aguarda,” e caiu sem vida no ladrilho.
Liliana o encarou de cima, e a fúria crescente sobrepujava o horror do que acontecera a Josu. Ela não permitiria que isso acontecesse. Seu irmão não seria escravo de Belzenlok. Ela o libertaria; não importava o que fosse necessário. “Você vai pagar por isso, Belzenlok,” disse ela, arrastando suas palavras em uma fúria gélida. “Não importa o que eu tenha que fazer, você vai pagar.”
Dominária Arquivo das Histórias
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