Conto Anterior: O Caminho para a Opulenta

Um aviso a pais e mães: observem que este conto trata de assuntos que possam ser considerados inadequados para leitores mais jovens.

I.

O Senhor Jace Beleren, antigo Pacto das Guildas Vivo, tinha dado a seguinte ordem telepática: Bater em retirada. Precisamos de um plano. Falem com todo Líder de Guilda e planinauta que encontrarem. Nos encontramos no Senado Azorius. Agora.

Bom, tem agoras e agoras.

A Mestra Kaya ainda estava determinada a chegar em Orzhova primeiro, e depois de uns dez minutos, ainda comigo e com o Teyo, ela conseguiu.

Mas logo pareceu que era só isso que ela tinha conseguido.

Ela foi recebida imediatamente pela Madame Blaise, sua subordinada-chefe. Para tentar reunir os Orzhov para lutar contra Nicol Bolas e seus Eternos, a Mestra Kaya pediu que Madame Blaise organizasse uma reunião de emergência com autoridades do Sindicato, a começar pela Matriarca Teysa Karlov, chefe da família oligárquica principal.

Cinco minutos depois, a Matriarca Karlov mandou informar que infelizmente ela ainda estava confinada aos seus aposentos, mas já conseguiu uma reunião para a (já frustrada e nervosa) Mestra Kaya com um trio de figurões. Cada um deles tinha ganho mais poder sobre a igreja depois que Kaya assassinou seus líderes anteriores, o Conselho Fantasma Obzedat. Conhecidos como o grupo chamado Triunvirato, esses figurões vieram um de cada vez, e cada um era acompanhado por um pequeno thrull que não fazia nada — até onde eu notei — além de fazer seus mestres parecerem mais importantes.

O Pontífice Armin Morov era humano, patriarca da oligarquia Morov. Ele era bem velho, com pele acinzentada e sem cabelo nenhum, como se já estivesse bem preparado para entrar na nova formação do Obzedat. O Mestre dos Dízimos Slavomir Zoltan era um vampiro perigosamente bonitão. E a Senhora Maladola era um anjo que há muito tempo desertou da Legião Boros e agora agia como guerreira e executora-chefe dos Orzhov.

A Mestra Kaya também pediu que a Madame Blaise chamasse o Senhor Tomik Vrona, que era o assistente da Matriarca Karlov. Mas a Madame Blaise voltou com a notícia de que o Senhor Vrona não foi encontrado, e aparentemente não estava dentro das muralhas da catedral. Eu sabia, já que seguia o Mestre Zarek e a Mestra Kaya a pedido da Hekara, que o Tomik era amigo da Kaya, e eu vi a frustração do rosto dela sumir e virar preocupação imediatamente, considerando a condição das ruas de Ravnica.

Então, sem a presença do Senhor Vrona e com a abstenção da Matriarca Karlov, nós seis — nove, se contar os thrulls — entramos em um Grande Gabinete que era grande o suficiente para dez vezes mais gente. E o Triunvirato não se sentou perto — da Mestra Kaya ou de cada um deles — forçando todo mundo a gritar para ser ouvido além dos próprios ecos.

A Mestra Kaya tentou explicar os perigos que Nicol Bolas e os Eternos traziam para Ravnica, às guildas, e aos planinautas.

O Pontífice Morov, em meio a um pedido de desculpas intrincado para sua nova Líder de Guilda planinauta, disse que não entendia por que planinautas seriam preocupação dos Orzhov. “Ainda assim,” concluiu ele, “ficarei feliz em emitir um decreto da igreja condenando a coleta que os Eternos estão fazendo destas...‘centelhas de planinauta’? Seria este o termo apropriado? Bom, não importa. Vamos acolher o palavreado.”

O Mestre dos Dízimos Zoltan não conseguia justificar os custos de entrar na batalha. “Os dízimos estão em queda nestes tempos difíceis. E o seu perdão de algumas dívidas não vem ajudando, líder. Vamos deixar a poeira baixar, certo? A economia de guerra ficará muito mais atraente após o fim do conflito. Uma fase de reconstrução sempre traz mais renda para a cidade.”

A Senhora Maladola era a única dos três que parecia inclinada a ajudar, mesmo que vagamente. De qualquer modo, ela falou brevemente sobre sua vontade de se unir à luta. Mas o Mestre dos Dízimos Zoltan deu um olhar ríspido com uma sobrancelha erguida, e o Pontífice Morov meneou a cabeça levemente, sacudindo sua papada, e a executora mudou de tom rapidamente. “Se nossa nova Líder de Guilda liderasse o contra-ataque, tenho certeza de que os executores da igreja ficariam felizes em dar-lhe a honra de acompanhá-la com uma escolta — pelo menos acompanhá-la até a reunião de guerra no Senado Azorius.”

“Eu não preciso de uma guarda decorativa. Sei cuidar de mim mesma. Vocês não estão entenden—”

“Por favor, líder. Nós insistimos. Não é mesmo?”

O Mestre dos Dízimos Zoltan e o Pontífice Morov concordaram, e o vampiro adicionou que “as aparências exigem que você seja acompanhada até a sede do Senado.”

E nada além disso...

A Mestra Kaya estava com um olhar ameaçador tão aceso que eu achei que podia pegar fogo. “Escutem bem,” disse ela, tentando acalmar sua raiva. “Vocês parecem que não estão compreendendo o perigo que este mundo inteiro está enfrentando.”

O pontífice disse: “Imagino que se a situação está tão grave assim, o Pacto das Guildas Vivo finalmente aparecerá e resolverá tudo.

“Beleren apareceu. Ele está aqui, lutando conosco. Ele é parte de uma organização chamada Sentinelas, que pelo que entendi...protege o Multiverso de ameaças como Nicol Bolas. Ele e outro planinauta, Gideon Jura, estão fazendo o que podem para liderar as forças contra o dragão. Mas sua autoridade e poderes como Pacto das Guildas Vivo foram perdidas. Ele não consegue simplesmente consertar as coisas. Está em nossas mãos—”

O anjo fechou a cara e disse: “Sem seu poder e autoridade, que utilidade tem o homem?”

“De fato,” disse o vampiro, “por que seguiríamos alguém que desperdiçara tal oportunidade?”

O humano adicionou: “Talvez o prudente seria retirar nossas forças até uma posição defensável aqui mesmo na Catedral Opulenta e esperar a poeira baixar. Em alguns dias a situação pode ficar muito diferente.”

“Em alguns dias,” a Mestra Kaya bufou, “a ‘situação’ pode estar irrecuperável.”

“Pois bem,” concluiu o pontífice, "logo vamos saber, estimada líder.”

Nós saímos mais ou menos juntos do gabinete. O Triunvirato estava afoito para voltar aos seus afazeres, mas demoraram quando as coleiras dos thrulls do pontífice e do mestre dos dízimos se enroscaram.

Enquanto eles cuidavam disso — com uma dificuldade quase engraçada — eu ouvi um passo bem alto e bem forte atrás de mim. Eu me virei e vi um gigante de armadura — quatro metros de altura com um elmo que não mostrava sua face — se aproximando da Mestra Kaya.

“Líder de Guilda,” retumbou ele pelo elmo, “Eu sou Bilagru, impositor-chefe para a Igreja Militante. Me disseram que vossa senhoria pode precisar dos meus serviços.”

A Senhora Maladola disse: “Bem, Líder, talvez possamos montar sua Guarda Honorária em torno deste pilar gigantesco.”

Tanto a Mestra Kaya quanto o gigante a ignoraram. Ela disse: “Você é um impositor, encarregado de coletar dívidas para o Sindicato?”

“Exatamente, Líder.”

“Então você não concordaria que as dívidas da guilda ficariam muito mais difíceis de coletar se os Eternos do dragão assassinassem todos os devedores de Ravnica...além da prole de cada devedor — sem falar em cada membro do Sindicato?”

O Senhor Bilagru assentiu e resmungou: “Fantasmas e espíritos mandam em Orzhova há tanto tempo que todos esquecem que são os vivos quem fazem a maior parte das coletas. Posso levar meus impositores — e o que eu puder do poderio militar do Sindicato — para as ruas...a fim de ‘proteger’ investimentos Orzhov.”

“Isso, Impositor-Chefe, seria muito apreciado por sua Líder de Guilda.”

“Eu vivo para servir.”

O Pontífice Morov começou uma objeção, mas a Mestra Kaya virou para ele rápido: “É claro que há uma alternativa. Eu posso capitular todo débito como discutível, perdoando todas as dívidas neste exato momento.”

O pontífice, parecendo entrar ligeiramente em pânico, se afastou imediatamente do debate (fisicamente também) — quase tropeçando em seu thrull enroscado no caminho. “Não, Líder de Guilda. Nada extremo assim será necessário.”

“Muito do que é extremo será necessário antes deste dia acabar,” replicou ela, enquanto o Triunvirato — com seus thrulls finalmente desenroscados — saía.

A Mestra Kaya se virou para mim e para o Teyo. “Está na hora. Vamos.”


II.

Eu me senti muito importante — e meio solitária também — quando entrei na sede do Senado do lado da Mestra Kaya e do Teyo. Eu queria encontrar a Hekara no meio da multidão, descobrir que foi um engano e que ela ainda estava viva.

Mas não era só ela que não estava; ninguém do Culto de Rakdos tinha aparecido para a reunião. Disseram para a gente que o Lorde Rakdos culpava o Mestre Zarek, a Mestra Kaya, a Dona Lavínia e a Mestra Vraska (que também não estava lá) pela morte da Emissária Hekara, e recusou enviar qualquer tipo de representante como protesto.

Do mesmo modo, sem a Mestra Vraska, também não tinha ninguém do Enxame Golgari. E estavam espalhando pela câmara que o besta do Domri tinha morrido. Acontece que ele era um planinauta, e a Centelha dele foi colhida por um Eterno. (Akamal e as gêmeas tinham ido com ele. Eu me perguntei se tinham morrido também.) De qualquer modo, também não tinha ninguém dos Clãs Gruul aqui. Já que tanto Golgari quanto Gruul estavam sem líder, sem ninguém — ou talvez com gente demais — tentando tomar as rédeas, suponho que não tenham conseguido escolher alguém para ir à reunião.

A Casa Dimir também parecia não ter ido, e o Conclave Selesnya tinha se retirado para dentro do próprio território. Ou seja, metade das dez guildas não estavam ajudando à causa em nada.

Olha, se só eu aqui mesmo Sem-Portão estou mais perto de ser embaixadora Gruul, Rakdos ou Selesnya, estamos fritos. Eu não sou exatamente apresentável...

E as coisas não estavam muito melhores com as guildas que vieram.

O Líder de Guilda dos Azorius, o já infame Dovin Baan, tinha trabalhado com Nicol Bolas — assim como a Mestra Vraska. Ele não estava na reunião, mesmo que fosse na sede dele. A Dona Lavínia e alguns Azorius mais antigos estavam aqui, tendo repudiado o Baan e a liderança dele. Mas não eram autoridade de verdade sobre a própria guilda. Os estatutos do Senado ainda listavam o Baan como Líder de Guilda, e os Azorius adoram os estatutos deles.

E o Sindicato Orzhov? Bom, a Mestra Kaya ganhou a Guarda Honorária que ela não tinha pedido, e acho que o Chefe Bilagru tinha levado os impositores para as ruas, matar Eternos. Mas, fora isso, a Matriarca Karlov e o Triunvirato nem estavam se dando ao luxo de estar do lado de sua Líder de Guilda. Como o Mestre Zarek comentou com pesar, os Orzhov eram “avarentos para qualquer coisa, e isso inclui se dar ao luxo.”

No fim das contas, só a Liga Izzet (liderada pelo Mestre Zarek e pela Comissária Maree), a Legião Boros (liderada pela Líder de Guilda Aurélia), e o Conluio Simic (liderado pelo Senhor Vorel, teoricamente com total apoio de sua Líder de Guilda, a Primeira Oradora Vannifar) apareceram com suas forças.

Eu estava ouvindo a conversa do Mestre Zarek — ainda honrando o pedido da Hekara, sem motivo algum — quando ele perguntou para a Comissária Maree: “Cinquenta por cento não é o suficiente, não importa como façamos as contas, não é mesmo?”

Ela olhou para ele, seríssima. “Me desculpe, Líder. Mas nem noventa por cento será suficiente. Tentamos brincar de porcentagem da última vez. Quando Niv-Mizzet estava vivo talvez desse para conseguir com oito das dez guildas. Com ele morto...[/nbsp]”

Então o Mestre Niv-Mizzet morreu também...

Parecia que todo tipo de gente que eu vi recentemente — a Hekara, Niv-Mizzet, o besta do Domri — foram lá e morreram logo depois. Eu decidi ficar o mais perto possível do Teyo e da Mestra Kaya.

O Mestre Zarek disse: “Com o Mente de Fogo morto, a única opção é a Operação Desespero.”

Operação Desespero?

“E para que ela obtenha sucesso,” adicionou a Comissária Maree, “você precisará da cooperação de dez entre dez guildas. Não pode haver exceção.”

O Mestre Zarek assentiu. “Me traga opções,” foi só o que ele disse, mas ele não parecia ter esperança de que apareceria alguma opção.

Mas a comissária assentiu com firmeza e saiu com seus afazeres.


III.

O Senhor Jura e o Senhor Beleren estavam de pé na frente da falecida Mestra Isperia, antiga Líder de Guilda do Senado Azorius e atual estátua decorando o saguão do Senado.

Eu estava ouvindo a conversa dos outros de novo — nem precisa me dizer que é um hábito horroroso, eu já sei.

Mas também é um hábito bem útil. Às vezes, necessário...

O Senhor Beleren murmurou: “Esfinges. Causam mais problemas do que dragões."

O Senhor Jura ergueu uma sobrancelha.

O Senhor Beleren se corrigiu a contragosto e um pouco tarde: “Mais do que quase todos os dragões.”

“Não sabia que você tinha tanto problema assim com esfinges.”

“Alhammarret. Azor. Isperia. Nunca conheci esfinge nenhuma que não fosse distante, arrogante, imprest—”

“Calma aí, calma aí. Isperia fez muitas coisas boas em Ravnica. Na verdade, se a Vraska não tivesse a transformado em pedra, talvez agora nós estivéssemos em uma situação muito mel—"

“A vingança da Vraska foi merecida!” A voz do Senhor Beleren era um sussurro baixinho — que me forçou a ficar um pouco mais perto para ouvir — mas os humores dele estavam obviamente inflamados. “Você não a conhece. Não sabe a sua história.”

“Suponho que não,” disse o Senhor Jura com algum nível de surpresa.

Me ocorreu ali que o Senhor Beleren estivesse pelo menos um pouquinho apaixonado pela Mestra Vraska. Pensando bem, acho que eles seriam um casal bonitinho.

O Senhor Jura pôs a mão no ombro do Senhor Beleren, para acalmar. Primeiro, o jovem parecia pronto para bater a mão para longe...mas ele respirou fundo e até conseguiu dar um sorriso fraco.

“Precisamos começar,” disse o Senhor Jura. “Quanto mais tempo ficamos isolados aqui, mais danos Nicol Bolas e seu exército conseguirão fazer lá fora. Então... Pare por um minuto. Se recomponha, e vamos começar essa reunião.”

O Senhor Beleren assentiu e começou a andar — mas logo depois parou para dizer: “Você é um bom amigo, Gideon. Não sei se já te disse isso.”

O Senhor Jura deu uma risadinha. “Eu tenho certeza que não. Mas justiça seja feita, eu acho que também nunca falei disso com você. Estou quase com vergonha que você falou primeiro...velho amigo.”

O Senhor Beleren sorriu mais uma vez, e parecia ao mesmo tempo um menino e um velho. Ele estava bronzeado, em boa forma, e aparentemente apaixonado. Mas o peso do ataque de Nicol Bolas claramente pesava nos ombros levemente caídos, e revelava a idade no rosto.

Enquanto o via saindo para um canto, o Senhor Jura endireitou as costas e se virou para a multidão, que tinha pouca representação das guildas — mas tinha muitos planinautas, incluindo ele e o Senhor Beleren, o Mestre Zarek, a Mestra Kaya, o Teyo e muitos, muitos mesmo — muitos que eu não sabia o nome ainda. Um dos planinautas até trouxe o cachorro, que tinha duas caudas e o pêlo mais macio.

O Senhor Dack Fayden, psicometrista e excelente ladrão - eu já vinha estudando, observando na surdina nos últimos anos - acaba que é planinauta e isso explica por que eu o perdi de vista mais de uma vez. Ele estava meio que flertando com a Dona Saheeli, elogiando o corte e estilo do vestido dela — de olho nas várias joias de filigrana que ela estava usando. Ela parecia lisonjeada e ressabiada ao mesmo tempo, o que parecia adequado.

O Senhor Beleren voltou, fez um aceno de cabeça para o Senhor Jura, que acenou de volta. Acho que é hora de começar. Então eu voltei rapidinho para perto do Teyo e da Mestra Kaya.

O Teyo perguntou: “Sobre o que você estava conversando com eles?”

“Eu ouvi mais do que falei.”

Ele sorriu para mim. “Você? Ouviu? Sério?”

Eu dei uma leve cotovelada nas costelas dele. Ele disse, “Ai,” mas o sorriso não diminuiu. Que sorriso bonito.

Ai, não. Não vai se acostumando, Araithia. Ele caminha entre os mundos, e quando essa luta acabar ele vai simplesmente caminhar para outro lugar...

Juntos, nós vimos o Senhor Beleren e o Senhor Jura subirem na frente da plataforma. O Senhor Beleren fez uma mágica para que a voz dele preenchesse o salão: “Vamos começar, por favor. Precisamos de um plano.”

“E os dois gênios da estratégia aí acham que vão conseguir bolar um?” A voz retumbante carregada de sarcasmo não precisava de magia para ser ouvida. Ela veio de um homem-demônio em um canto, de um planinauta. Eles o chamaram de Ob Nixilis, e quase todo mundo queria ficar meio longe dele — a não ser pelo Senhor Planinauta-do-Bigode-Fininho, que antes tinha feito um esforço sincero (talvez sem motivos sinceros) de fazer amizade com o feio e velho Senhor Nixilis.

Um burburinho foi aumentando na multidão. Ninguém parecia gostar do homem-demônio, mas estava claro que muitos tinham a mesma opinião. O mandato do Senhor Beleren como Pacto das Guildas Vivo foi...inconsistente, e a liderança dele não era reconhecida universalmente pelo povo Ravnicano. Ou também pelos planinautas, pelo jeito.

O Senhor Jura deu um passo à frente e falou com sua voz grave (sem precisar de magia): “Teremos um momento para que todos falem o que pensam. Mas ficar murmurando uns com os outros não vai nos levar a lugar algum. Então que tal segurarmos os comentários sarcásticos por agora e escutar?”

Teve outro murmúrio coletivo, mais breve, mas esse foi seguido por um silêncio desconfortável que foi aproveitado pelo Senhor Beleren: “Nós temos vários problemas. Cinco, para ser exato. Alguns sabem de todos eles, mas muitos acabaram de chegar e não tiveram a oportunidade de visualizar a situação toda. Então deixem que eu esclareça algumas coisas agora.”

Ele deu uma olhadela para o Mestre Zarek, que deu de ombros. Então o Senhor Beleren continuou: “Um. O Farol dos Izzet está atraindo mais e mais planinautas para Ravnica, onde eles chegam sem suspeitar de nada e correm o risco de virarem combustível do poder de Nicol Bolas.”

Como se fosse teatro, outro planinauta se materializou no meio da multidão com um lampejo de luz turquesa. Era um homem mais velho, com olhos cor de turquesa e uma barba branca, cuidadosamente aparada. O Senhor Jura sussurrou alguma coisa no ouvido do Senhor Beleren, mas eu estava longe demais para entender.

O Senhor Beleren suspirou pesado e continuou: “Precisamos desativar o Farol, que está sob guarda Azorius e Izzet na Torre... do Farol. Chegar lá deve ser difícil, mas o problema de verdade é a máquina, já que ela foi construída com salvaguardas para impedir que Nicol Bolas a desligasse.”

“Genial,” disse bufando o minotauro que eu vi materializar no meio da praça mais cedo. “Como vocês são tolos... adoram cair direitinho nas garras do dragão.”

Do outro lado do cômodo, a Dona Huatli rebateu: “Igual a você quando veio para cá?”

O minotauro bufou mais uma vez — mas não falou mais nada. Eu decidi que gostava bastante da Dona Huatli.

O Senhor Beleren voltou ao assunto: “Problema número dois. O Sol Imortal. Depois que o Farol atrai planinautas para Ravnica, o Sol mantém todos presos aqui. Então, igual ao Farol, precisamos desligar o Sol. Não está longe daqui, em uma das torres de Nova Prahv, sob a guarda do novo Líder de Guilda Azorius: Dovin Baan. Como sabemos agora, ele é lacaio de Nicol Bolas.

“Três. A Ponte Planar de Amonkhet permite que um exército quase interminável de Eternos entre em Ravnica e mate os planinautas atraídos pelo Farol e presos pelo Sol. Temos que desligá-lo, e só podemos fazer isso pelo lado de Amonkhet.”

A Dona Samut perguntou: “Mas como? Eu tentei transplanar de volta a Amonkhet, mas o Sol Imortal—”

O Senhor Beleren ergueu a mão, dizendo: “Eu sei. E não podemos esperar até resolvermos o problema número dois. Então, vamos usar o próprio portal...para chegar em Amonkhet.”

A Senhora Ballard deu uma risada zombeteira: “isso enquanto os Eternos marcham por ali? Parece um plano suicida excelente.”

O Senhor Beleren sorriu nessa hora. “Temos medidas que podemos tomar para que seja apenas um plano suicida medíocre.”

“Estou dentro,” disse a Dona Samut.

O Senhor Beleren a agradeceu com outro sorriso. Mas ao se virar para o Senhor Jura o sorriso sumiu rápido, e quando ele falou novamente era como se ele estivesse falando só com o Senhor Jura, como se ele esperasse alguma objeção dele. “Problema número quatro. Liliana Vess. Ela está obviamente controlando os Eternos para o Nicol Bolas.”

Ahh. O nome da Dona Cabelo-de-Corvo é Liliana Vess. Bom saber.

“Precisamos garantir que ela não possa mais fazer isso. Nunca.”

O Senhor Jura não disse nada.

O Senhor Beleren expirou aliviado, com força — e sua voz aumentada magicamente fazia cada sonzinho parecer ridiculamente alto. “Por fim, número cinco. O próprio Nicol Bolas. Mas se não conseguirmos lidar com os quatro primeiros, o quinto não tem esperança alguma.”

Outro murmúrio generalizado ecoou daquela sensação de desesperança.

O Senhor Jura deu mais um passo à frente: “Temos um sexto problema. Temos a responsabilidade de proteger o povo Ravnicano, já que ninguém estaria em perigo se Nicol Bolas não cobiçasse Centelhas de planinauta.”

O Senhor Beleren colocou a mão em seu ombro. “Isso mesmo. Seis problemas.”

“Sete.” Era o Mestre Zarek. “Precisamos reconstituir o Pacto das Guildas unindo as dez guildas. Sem o poderio combinado do Pacto das Guildas, nunca teremos chance real de enfrentar o dragão.”

“Você já tentou isso aí,” gritou o Senhor Vorel, apontando para os restos da Mestra Isperia. “Veja o resultado. Isperia está morta, e você nem conseguiu reunir representantes de todas as dez guildas no momento de maior crise que Ravnica já teve. O que o faz pensar que pode reconstituir o Pacto das Guildas agora?”

Outra onda de murmúrios ameaçou se transformar em rugido, mas o Mestre Zarek usou magia para aumentar o volume da própria voz. Ela zumbia e craquelava enquanto ele falava, mais alto que a multidão: “Honestamente, não tenho certeza se podemos. Mas precisamos tentar. O Mente de Fogo deixou um último estratagema. É um pouco desesperado—”

“Mais do que seu último estratagema?” Perguntou o Senhor Vorel, incrédulo.

“Na verdade, sim,” reconheceu o Mestre Zarek. “Mas pode ser nossa única chance.”

“Certo,” disse o Senhor Beleren antes que a multidão se dividisse em facções em debate. “Sete objetivos — ou seis, se não considerarmos enfrentar Nicol Bolas por enquanto. Proponho dividir nosso coletivo de forças para atingir cada um desses objetivos.”

O murmúrio recomeçou instantaneamente. E o tom era bem pouco entusiasmado. Um planinauta aviano que eu não sabia o nome perguntou: “E se nos rendermos? Nos prostrarmos à mercê de Nicol Bolas.”

O Senhor Fayden virou para o aviano e disse: “Não vejo o Bolas como um ser misericordioso. Provavelmente você não tenha visto, mas um planinauta chamado Domri Rade tentou trocar de lado e se unir ao dragão. Ele foi o primeiro planinauta coletado.”

Outra planinauta, uma mulher com cabelo preto como azeviche e olhos verdes muito brilhantes disse: “Então vamos nos esconder. Em algum ponto o próprio Nicol Bolas vai querer transplanar. Ele fará o Baan desligar o Sol Imortal e nós todos vamos conseguir escapar.”

O Senhor Vorel estava ficando com mais raiva a cada minuto e gritou: “É essa a sua solução? Se esconder e abandonar Ravnica aos Eternos e ao dragão? Vocês, planinautas, são o motivo pelo qual o Bolas está aqui, o motivo pelo qual Ravnica está em perigo.” Ele se virou então para o aviano. “Mas eu gostei da sua ideia. Uma rendição — forçada, se necessário — dos seus permitirá que Nicol Bolas se sacie. Depois de saciado, ele deixará Ravnica em paz.

“Nicol Bolas nunca está satisfeito,” disse uma voz amarga. Era mais uma planinauta. Uma mulher que carregava um arco longo.

Com igual amargura, a Dona Samut concordou. “Isto é verdade.”

“Certo,” disse o Senhor Vorel. “Mas deixe-me ser bem claro. Se vocês planinautas se esconderem enquanto Ravnica queimar, encontrarão pouca ajuda ou socorro de seus cidadãos e guildas.”

De repente o Senhor Jura se virou para o Senhor Beleren e disse: “Talvez nós devêssemos tentar uma rendição.”

O Senhor Beleren parecia bem exasperado. Eu fiquei meio com pena dele, sabe?

A Dona Samut deu um passo à frente. “Gideon Jura, é nobre da sua parte demonstrar intenção de tal sacrifício. Mas não se esqueça do destino que teve Amonkhet.” Ela se virou para a multidão. “Nicol Bolas deixou meu mundo absolutamente devastado. Agora mesmo, apenas uma meia-dúzia de sobreviventes luta para derrotar os monstros que Nicol Bolas deixou para nos abater como se fôssemos gado. Ele não deixará Ravnica como a encontrou.”

“Bolas. Nunca. Está. Satisfeito,” repetiu a Dona Arco Longo. “Não há nada, literalmente, que sobrara do meu mundo, de Skalla, graças a ele. O dragão deve morrer.”

Alguns gritos de “SIM!” a seguiram — seguidos por outros gritos que eram, sabe como é, de menos apoio e menos educados. Tudo estava caindo por terra.

A Dona Lavínia falou: “Uma coisa é certa. Se brigarmos entre nós, não temos chance alguma contra Nicol Bolas.”

A Mestra Aurélia gritou: “Isso mesmo! O destino de Amonkhet e de Skalla não pode recair sobre Ravnica.”

Notei que o Senhor Juba D’Ouro estendeu a mão para o Senhor Jura, que a tomou e desceu da plataforma. O Senhor Juba D’Ouro disse: “Lembre-se do seu Juramento. O Juramento das Sentinelas. A rendição não é a resposta, meu amigo. A arqueira está certa e você sabe disso. Alguém como Nicol Bolas nunca estará satisfeito, nem terá clemência. Ele vê tais coisas como fraquezas, e qualquer tentativa de apelação só aumentaria seus apetites.”

O Senhor Jura pensou sobre isso e assentiu com a cabeça. E então ele seguiu até o meio da multidão, passando por planinautas e membros de guildas. Ele falou, e nós todos escutamos. “Agora que todos sabem da nossa existência, podem ser perdoados por acreditar que nossa habilidade de caminhar entre os mundos é uma desculpa para que planinautas fujam da luta. Mas nós Sentinelas fizemos um Juramento, o de sempre permanecer. Era uma escolha que tínhamos o luxo de fazer, e de algum modo pensamos que essa escolha nos fazia superiores. Agora, estamos aqui entre vocês, sem esse poder de escolha. Agora, a escolha é se vamos lutar.”

Ele desembainhou sua espada preta com bastante fulgor. “Esta é a Lâmina Negra. Ela já matou um Dragão Ancião, e pode destruir Nicol Bolas também. Com ela, eu juro agora retomar este mundo. Quem está comigo?”

Esse discurso despertou a multidão inteira — ou quase. As pessoas começaram a se juntar em torno dele. O Senhor Juba D’Ouro pousou a mão no ombro dele, e esse gesto simples pareceu criar uma onda. De todos os lados, planinautas e ravnicanos estenderam suas mãos para encostar no Senhor Jura — ou se estivessem mais para trás como o Teyo, a Mestra Kaya e eu — encostar em alguém que estivesse encostando nele, como se assim puxassem forças da convicção que ele tinha.

Foi muito legal. Foi um momento muito bonito por um ou dois segundos.

Bom, todos nós menos o Senhor Fayden, que se esgueirou atrás da Dona Kiora para tentar encostar com sua psicometria no bidente lindo e brilhoso que ela carregava — e parecer como se tivesse se arrependido de cada decisão que tinha tomado na vida.

Eu estava meio que rindo disso quando um pequeno goblin Izzet entrou por uma sacada, gritando: “Mestres, um desses Eternos-deuses se aproxima, à frente de um pequeno exército desses mortos-vivos esquisitões! ‘Cês têm cerca de onze minutos e meio antes deles chegarem!”

O Senhor Beleren clamou: “Seis desafios! Seis missões! Precisamos de voluntários! Agora!”

A Mestra Kaya começou a dar um passo à frente — mas o Mestre Zarek a interceptou: “Preciso da sua ajuda para a missão número sete.”

“Desculpa,” disse ela, “Eu perdi as contas. Qual delas é a sete?”

“Operação Desespero.”


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