HUATLI, EM KALADESH

Huatli não conseguia fechar o sorriso.

Ela apareceu em uma cidade diferente de tudo o que ela já vira antes. O ar era cálido como o de seu plano natal, mas nada além disso lhe era familiar. A cidade praticamente vibrava com criatividade e engenhosidade, e Huatli se maravilhava com os edifícios e equipamentos e com as . . . coisas . . . Que este povo criara. Esferas que serviam de montaria! Pequenas criaturas de metal que entregavam pacotes! Ela caminhava sem rumo específico por um mercado que tinha aromas de temperos desconhecidos, observando estranhas correntes azuis fluindo como rios pelo céu. O povo daqui andava rápido e falava mais rápido ainda, e suas barracas estavam repletas de invenções lindas, diferentes de tudo o que Huatli já vida em sua vida. Havia povos de diferentes espécies - humanóides pequenos, um povo azul alto (com seis dedos em cada mão!) e seres com aparência de carvão e luz azul-clara fluindo sob suas peles. Huatli estava em êxtase por ter a chance de conhecer a todos.

Nenhum de seus tamales sobrevivera à viagem (eles esfarelaram em algum ponto do espaço metafísico entre Ixalan e aqui), então ela trocou um pedaço de âmbar do seu lar por um saco cheio de moedas de aparência curiosa. Elas tilintavam em sua mochila enquanto ela caminhava, se perguntando se ela conseguiria encontrar uma pousada para passar a noite em um lugar cheio e agitado como este.

Enquanto ela caminhava pela cidade, ela recebia alguns olhares curiosos, mas cada um deles era seguido rapidamente por um elogio pelos detalhes de sua armadura.

"Que técnica! Quem é seu artífice?" Perguntavam eles. Huatli sorria contente e anunciava em resposta: “Eu não tenho ideia do que seja isso!”

Ela pediu recomendações a um lojista sobre lugares turísticos, e foi indicada a visitar um grande e arejado pátio no centro da cidade. Logo ela encontrou uma exposição cheia de pessoas que tentavam ver o palco elevado, com uma grande tenda em um dos lados.

Huatli viu um grupo de olho no palco, segurando blocos de papel e utensílios de escrita em suas mãos. Ela sabia que havia encontrado o seu grupo, e sentou-se ao lado deles com seu próprio papel e grafite na mão.

Uma figura subiu ao palco, com pele da cor do carvão e fendas profundas que mostravam sua luz azul logo abaixo. A figura usava sedas opulentes dependuradas elegantemente por seu corpo, que estranhamente dissipava. Após um aceno, a multidão aplaudiu, o povo com as penas tomou notas e fez perguntas; Huatli estava empolgada em se envolver com aquilo tudo. A figura fez um aceno para o público se aquietar, e fez um gesto teatral para um objeto coberto por um tecido no outro extremo do palco.

"Boas vindas, meu público!"

Sua voz era leve e cheia de alegria, comandando a atenção da platéia em torno de Huatli.

"Como muitos de vocês, dediquei minha existência a melhorar as vidas em meu entorno. A cultura etergênita é centrada em aproveitar ao máximo o tempo que temos, celebrando o glorioso êxtase de viver. Todas as coisas têm um fim. Mas e se o fim fosse mais fácil para quem deve encontrá-lo mais cedo?"

A platéia murmurava enquanto a pessoa (etergênita?) puxava o tecido de cima do objeto escondido, revelando uma caixa com ornamentos dourados.

"Este é o regulador de éter, um instrumento que regula a energia - não para dispositivos consumidores de éter, mas sim para pessoas feitas de éter. É um dispositivo medicinal que aliviará sintomas desconfortáveis da dissipação de éter, permitindo a pessoas etergênitas uma transição mais digna e indolor de volta ao ciclo de éter!"

A platéia aplaudia com entusiasmo, e as pessoas em torno de Huatli faziam anotações furiosamente.

Huatli estava impressionada. Seu cérebro girava tentando compreender o que o inventor acabara de explicar, maravilhando-se com a mistura de ciência e empatia. Ela queria fazer mil perguntas: Como ele funcionava? O que era o ciclo do éter? Como seria a revelação deste equipamento para um grupo de pessoas que ela nem sabia que existia há alguns minutos atrás? Huatli sentiu um leve puxão em sua manga e se virou para ver uma mulher mais ou menos da sua idade a encarando.

Saheeli Rai
Saheeli Rai | Ilustração: Willian Murai

Com um olhar preocupado, a mulher se inclinou para sussurrar na direção de Huatli: "Você é daqui?"

Huatli meneou a cabeça. "Não! Eu sou de . . . Outra cidade."

Os olhos da mulher corriam de um lado para outro. Ela se inclinou ainda mais. “De outra cidade em outro plano?"

Huatli sorriu. "Você também é planinauta!" Adivinhou ela, empolgada.

"Aqui, não!" A mulher dizia e agitava as mãos de modo alarmante, afastando Huatli da multidão.

Juntas, elas atravessaram a multidão com alguma dificuldade — a mulher foi parada várias vezes por alguém que lhe pedia um autógrafo - e elas eventualmente chegaram em um parque ali perto. Estátuas gigantescas estavam por todo o pavilhão, e Huatli supôs que as poses ousadas refletiam os importantes feitos das pessoas assim eternizadas.

"Peço desculpas por interromper," disse a mulher. “Meu nome é Saheeli. Sua indumentária é incrível - era um palpite meu, que você talvez fosse planinauta também.”

”É um prazer conhecer você, Saheeli. Meu nome é Huatli. É a primeira vez que viajo para fora do meu mundo,” disse Huatli. "Qual é o nome deste aqui?"

”Este é o plano de Kaladesh, e esta é a cidade de Ghirapur. Você escolheu uma hora ótima para chegar. De onde você é?"

Huatli pensou por um momento e sentou-se em um banco. Ela se distraía o tempo todo com as lufadas azuis que desenhavam o céu acima delas. "Eu vim de um continente chamado Ixalan, então suponho que seja esse o nome do meu plano."

"Ixalan. Eu não tinha ouvido falar desse ainda!” Saheeli sorriu. "Como ele é?"

Huatli pausou por um segundo. Como ela conseguiria descrever o seu lar para alguém que nunca o tinha visto?

Do único jeito que eu sei.

"Minha terra brilha tanto quanto o sol.
O ar é denso com a luz,
E o solo é escuro e vívido.
Um sem-fim de árvores cobrem vistas sem fim,
E dinossauros respondem às canções do meu povo."

Saheeli arregalou os olhos, cheios de curiosidade. "O que é um dinossauro?"

Huatli franziu o cenho. “Escamas? Penas?"

Saheeli a encarava, inexpressiva.

"Alguns vão até a altura dos joelhos e outros são altos como torres? Não tem deles por aqui?"

"Não, mas eu adoraria fazer um!" Saheeli abriu um sorriso largo e puxou Huatli para se levantar do banco. "Nós vamos agora mesmo para minha oficina e você vai descrever um deles para mim. Eu estava mesmo precisando de um novo projeto de artefato!"

Huatli se permitiu ser puxada de pé e sorriu em resposta. "Eu posso ajudar?"

"Claro que pode! Você é a especialista. Eu preciso saber tudosobre os dinossauros!"

Huatli estava em êxtase.

Ela estava exatamente onde devia estar.

As duas planinautas caminhavam contentes até a oficina de Saheeli.

E Huatli contou a Saheeli sobre o seu lar.


ANGRATH

Era exatamente como ele se lembrava.

A estrada era larga e empoeirada, salpicada aqui e ali com lojas que existiam desde antes de ele nascer. Era um lugar sonolento, e Angrath estava feliz com o pouco que via de mudanças.

Uma nuvenzinha de fumaça subia de sua fundição. Uma vitrine pintada à mão do lado de fora dizia “ABERTO”, pintada com letras em bloco. O edifício era pouco mais do que uma choupana em um canto da cidade, mas era a choupana dele no canto da cidade. Pilhas de ferro e metal estavam do lado de fora, e diversos itens entre armas e armaduras estavam pendurados em uma estante, marcados com etiquetas de acordo com cada pedido.

A orelha de Angrath tremulou ao ouvir o tinido de metal e o chiar da água lá dentro.

Ele se aproximava, e suas correntes tilintavam com cada passo.

Angrath se abaixou levemente para evitar bater com a cabeça na soleira da porta (ele ainda conseguia discernir o impacto na madeira de cada vez que ele esquecera), e pausou ao ver quem trabalhava na forja.

Duas minotauras tiraram os olhos brevemente de suas bigornas. Elas eram altas como fora sua mãe. Elas vestiam aventais volumosos de couro, e seus chifres estavam adornados com as jóias típicas de mulheres solteiras da idade delas.

Elas arregalaram os olhos. A da direita bufou, chocada. As orelhas da outra se ergueram com a surpresa.

A da direita cheirou o ar e tremeu, emocionada. "Pai?"

O vapor fazia um sibilo suave quando as lágrimas de Angrath encostavam em sua pele. Ele sorriu.

"Rumi. Jamira. Estou em casa."


VRASKA

A sensação de caminhar pelas Eternidades Cegas era quase algo novo depois de tanto tempo sem fazê-lo. Ela seguira para lá assim que o portal planar se fechou, e tão rápido quanto saiu de Ixalan ela chegou em seus aposentos em Ravnica.

Era o cheiro do seu lar. Vraska estava incomensuravelmente contente consigo mesma.

Ela imediatamente cruzou o cômodo até sua poltrona favorita e pegou o livro de história que ela estava lendo quando partiu. Havia uma nova carta marcando uma página.

Apenas duas palavras, "PLANO DE MEDITAÇÃO," apareciam na letra elegante e já conhecida.

Vraska deu um sorriso largo. Contente, ela sacudiu os ombros para tirar sua casaca e começou a trocar as roupas manchadas de suor (não havia pressa, afinal). Ela pegou o livro e caminhou até a estante para guardá-lo. Enquanto ela o colocava de volta no lugar, seus olhos pararam em um título que ela não retomava há algum tempo. Ela contemplou o livro, puxando-o e colocando-o na mesa ao lado de sua poltrona, absorta.

Ele teria de esperar até sua reunião com o dragão, é claro.

Pronta para partir, ela caminhou para dentro de um corte no ar, a caminho do plano de meditação.

Pools of Becoming
Pools of Becoming (Planechase) | Ilustração: Jason Chan

Nicol Bolas esperava por ela.

Ela chegara na água agora conhecida, cercada pela jaula mágica. Vraska realizou o feitiço para destrancá-la com perfeição, e a jaula desapareceu.

Ela encarou o dragão e ele a encarou de volta.

"Eu fiz o que você pediu," disse Vraska. "Veja por si mesmo."

E ele o fez.

Nicol Bolas investigou cada canto de sua mente com uma minúcia que ela conseguia sentir. Ele espiou cada detalhe de suas memórias de Ixalan, reproduzindo todas elas em um piscar de olhos. Vraska se retraiu com a sensação. Era como ter suas entranhas escovadas por dentro.

Ela assistia internamente enquanto ele observava a inteireza de sua mente, como se fosse um mural. Vraska não se importava. Ela tinha orgulho do que conseguira realizar.

Ela se lembrou de subir o rio sozinha . . .

de corajosamente mergulhar para dentro do rio que atravessava a cidade . . .

viu uma esfinge destruir parte de Orazca . . .

Sphinx's Decree
Decreto da Esfinge | Ilustração: Daarken

e pisar no Sol Imortal para transformar esta esfinge - junto com dúzias de outros inimigos - em ouro puro.

As lembranças de Vraska eram claras como a luz do dia, e ela deixava sua mente contentemente aberta para que Nicol Bolas a inspecionasse.

E então, de repente, a sensação desapareceu. O dragão deixara sua mente e, enquanto partia, ela viu quão transparentemente feliz ele estava com a missão dela.

Nicol Bolas estava praticamente radiante de alegria.

Suas garras se curvavam com prazer.

"Muito bem, Vraska," disse ele. "Você será recompensada por sua lealdade."

Vraska se curvou, e sua mente era novamente sua; ela sentiu o peso de algo se manifestar em seu bolso.

"Um presente, minha fiel serva. Você ganhou um reino sob seus próprios desígnios."

"Agradeço pela confiança."

"Sou eu quem tem a agradecer. Gostaria muito de trabalhar novamente com você no futuro."

"Você sabe como entrar em contato comigo," disse Vraska, com um sorriso profissional.

Nicol Bolas acenou com uma das garras para sinalizar que eles haviam terminado, e Vraska partiu.

A reunião levara apenas alguns minutos. Vraska voltou ao seu apartamento em Ravnica sentindo-se . . . confusa.

Nicol Bolas estava satisfeito, mas ela ainda se via pensando que ele esquecera algo importante . . . Ou seria ela quem estava se esquecendo de algo? Ela se sentiu incômoda, apesar de não se lembrar de nada que pudesse estar faltando . . . ou por que estaria.

Vraska dispensou a sensação. O dragão conseguiu o que queria, e ela também! Ela colocou a mão em seu bolso e puxou um pequeno pedaço de papel.

"ELE ESTÁ SOZINHO E APRISIONADO AQUI," dizia a mesma letra rebuscada das mensagens anteriores de Nicol Bolas. "MEUS PARABÉNS, LÍDER DE GUILDA VRASKA." A localização escrita embaixo da mensagem levava a um canto pouco povoado da cidade. Um lugar perfeito para lidar com a imundície de uma maneira apropriadamente sinistra.

Vraska sorriu e caminhou até sua pia. Hoje seria uma noite divertida, afinal, e Vraska decidiu racionalmente que ela deveria estar e se sentir em sua melhor aparência antes de sair. Sua tarefa podia esperar algumas horas.

Ela limpou o rosto com um pano, colocou a chaleira no fogão, abriu o livro de memórias que ela puxara de sua estante e contemplou o que ela devia dizer para Jarad antes de petrificá-lo.


JACE

Jace tinha se coberto em um manto de invisibilidade enquanto o Sol Imortal desaparecia, e ele assistia Vraska transplanar. Um bombardeio de rostos familiares caiu pelo teto assim que o Sol Imortal desapareceu. Ele ficara assistindo, perfeitamente escondido, enquanto eles discutiam e saíam em um sopro.

Malcolm e Calçola ainda estavam no cômodo de cima. Jace se estendeu até Malcolm (certamente o mais confiável dos dois) e enviou uma mensagem simples. Ele sentiu Malcolm ficar imóvel, logo acima dele.

A Capitã está segura, mas está longe Jace pensou escolhendo suas palavras cuidadosamente. Eu vou partir por um tempo, mas preciso que você diga à tripulação como vocês são importantes pra mim.

Você sempre vai ser parte da tripulação, Jace, disse um tenor gentil na mente de Jace. Você foi um excelente pirata.

Quem disse que eu vou deixar de ser? Pensou Jace, com um sorriso largo. Pra cima deles, Malcolm.

Você também, Jace.

Jace fechou a conexão e sentiu Malcolm partir, e sua mente viajava para cada vez mais longe.

Ele assistiu cada uma das pessoas no cômodo de Azor partir, e depois permitiu-se ficar visível mais uma vez.

Jace sabia que precisava ir até Dominária, mas ficou imóvel.

O ar noturno de Ixalan começava a adentrar o santuário. O canto de pássaros e dinossauros noturnos ecoava acima do zumbido de insetos do começo da noite.

Sua mente devaneou até a promessa de livros e café. Pensar nisso fez suas entranhas rodopiarem como folhas ao vento. Ele se lembrou da voz confiante de sua capitã, e do amor estável que ela nutria por si mesma - não se importando com os dons assustadores com os quais ela nascera (finalmente, alguém que entendia como era esse tipo de fardo). Ela faria de tudo por sua comunidade, e sacrificara parte de si mesma para garantir a sobrevivência de Ravnica.

Ela era impressionante.

E ela pensava que ele também era.

Jace sorriu consigo mesmo e observou todo o santuário. Era um cômodo bonito, apesar do buraco gigante no teto. Ixalan era um lugar estranho, ridículo e maravilhoso. Jace esperava poder voltar aqui novamente com Vraska. Encontrar a tripulação d’A Truculenta. Sair em mais algumas incursões, por diversão. Mas isso teria que esperar; ele não queria ser como Azor.

Jace olhou para si mesmo.

O bronzeado era verdadeiro. Os arranhões, as mãos já calejadas, os músculos (os músculos!) eram todos dele. Jace sentiu orgulho de seu corpo pela primeira vez na vida. Ele não pode perdê-lo agora. Gideon ajudaria com isso - ele já tentava impingir um regime de exercícios para Jace há um ano.

Um pensamento parou o impulso mental de Jace. O que que eu vou dizer quando encontrar as Sentinelas?

Jace começou a entrar em pânico. Algum deles conhece a Vraska? E se eles já estiverem fazendo alguma outra coisa? E se eles já partiram para outro lugar e eu não conseguir encontrá-los pra contar tudo sobre Ravnica? E se eles voltaram para Innistrad, ou Kaladesh, ou Zendikar? E se eles estão com o Ugin?! O que diabos eu diria pro Ugin?! “E aí, sabe aquele seu amigo, que você ficou uns mil anos sem falar - pois é, ele está em uma ilha agora, porque ele é horrível. Ah, você também tentou me usar pra atrair o Nicol Bolas até Ixalan e aprisioná-lo, não é mesmo? O que te impediu de fazer isso em Tarkir? Será que tudo o que você fez na vida foi para derrotar o Nicol Bolas? Porque se for, vamos precisar que você aja como tal."

Jace sentiu-se incrivelmente pequeno. Nenhuma dessas perguntas o ajudaria agora. Ficar retorcendo as mãos não protegeria o seu lar. Ele escolheu deixar suas perguntas de lado. Ravnica vem primeiro. Ele era o Pacto das Guildas Vivo, mas também era mais do que isso. A boca de Jace se inclinou com meio sorriso. Eu sou alguém que cria um plano para que uma capitã pirata consiga sabotar um dragão. Esse é quem eu sou.

O cômodo de Azor agora estava escuro. Pequeninas luzes dançavam na selva lá fora, e a copa das árvores se banhava na luz do luar.

Ele não podia mais se atrasar.

Transplanar é um negócio complicado; não é uma coisa exata, e os destinos costumam ser alcançáveis apenas se alguém já esteve no lugar antes. É mais comum viajar para um plano desconhecido específico concentrando-se em algum planinauta que conheça. O primeiro instinto de Jace foi alcançar seus amigos em Dominária concentrando-se em Liliana, mas pensar nela o fez parar. O que ele sentia por ela agora não era nada parecido com afeto. Era mais pálido do que isso. Era uma ligação antiga, anêmica e ansiosa entre eles que dava uma sensação mais de temor do que ternura. A noção inteira dela o incomodava, então ele se concentrou nos outros.

A bondade luminosa de Gideon brilhava pelas Eternidades Cegas como um farol, e Jace decidiu se concentrar nisso.

Jace sentiu sua forma física tremular e dissipar, e ele caminhou pelo éter, acostumado com os sons e luzes que o recebiam.

Omniscience
Onisciência | Ilustração: Jason Chan

Mas algo estava errado.

A posição de Gideon em Dominária estava em movimento - e não em uma velocidade normal ou de montaria, e sim mais rápido do que deveria.

Como ele está indo rápido assim?!

Seu coração começou a acelerar quando ele percebeu que teria de mirar.

Jace ajustou seu caminho pelo éter, mantendo seu destino fixo na posição de Gideon enquanto rapidamente contabilizava sua velocidade de locomoção. Ele juntou os braços firmemente ao longo do corpo, mudando de curso levemente para ficar na mesma velocidade do que diabos ele aparentemente iria pousar, e sentiu o véu de Dominária se aproximando.

Ele não conseguia ver seu destino, é claro, mas ele tinha uma ideia geral do tamanho e da forma da coisa para onde ele estava mirando. O que preocupava Jace era o fato de que Gideon parecia estar se locomovendo em algo que estava em velocidade muito alta. Ele xingou e ajustou seu vetor mais uma vez. NO QUE ELE ESTÁ VIAJANDO?

Jace sabia muito bem que se ele não conseguisse fazer isso direito, ele poderia transplanar para dentro de algum objeto sólido, ou diretamente na frente do objeto sólido bem a tempo de ser atropelado.

As partes do seu cérebro que não se concentravam na trajetória eram um coro infindável de xingamentos. Ele notou levemente que Vraska estaria orgulhosa da expansão de seu vocabulário.

Ele conseguia sentir Gideon através do éter, e seu alvo, e se concentrou enquanto diminuía sua velocidade o suficiente para materializar-se.

Jace caminhou para fora do éter com esforço, sendo imediatamente parado contra uma parede. Ele suspirou longamente, e depois inalou o ar de um novo plano.

A primeira coisa que ele notou foi o ranger de madeira, e o zumbido calmante de alguma máquina.

Ele notou que pisara em algo levemente gosmento, e olhou para cima e ver quem estava por perto.

O cômodo estava cheio de pessoas olhando para ele.

Jace recuperou o fôlego e acenou, sentindo-se sem graça.

"Olá. Oi. Desculpem. Eu não esperava ter conseguido, mesmo,” dizia ele, resfolegante. “Eu tive que ajustar minha trajetória por causa da velocidade de vocês.” Jace sacudiu o nervoso de seus braços e riu. “Uau! Nunca transplanei pra um objeto em movimento antes - no que estamos andando? Ele é movido a quê? A que velocidade estamos?” Ele apontou vagamente para a estrutura em torno deles enquanto divagava e fazia mil perguntas enquanto ainda recuperava o fôlego.

Ele olhou para cada uma daquelas faces e não encontrou informação alguma. Ele ouviu passos rápidos em grevas de metal, e viu Gideon derrapar para dentro por uma porta próxima, com olhos arregalados e o corpo completamente congelado com o choque. Sua expressão estava carregada de emoção. Esse era alguém que estava feliz a ponto de chorar por ver que ele estava vivo. Esse era seu amigo.

Jace sorriu largamente, exaltante. "Gideon! Eu não morri!"

Ele viu Gideon se lançar para abraçá-lo, mas uma das outras pessoas no cômodo ficou no caminho dele, abruptamente. Ela parecia ter mais de setenta anos. Ela usava robes vermelhos de tecido grosso, e seu cabelo grisalho e encaracolado estava levemente amarrado em uma trança frouxa para o lado. Ela olhou Jace de cima a baixo com um sorriso distante e divertido nos cantos da boca. A mulher olhou para Gideon por cima do ombro e ergueu uma sobrancelha.

"Quem é o rato de biblioteca aí?"


Apatzec sorriu ao ver seu xocolātl dançar de um lado para outro em sua caneca. Cada passo pesado do saurópode sob sua caravana quase transbordava o líquido pelas bordas, deixando a superfície vacilar na beira da caneca antes que a gravidade a lançasse de volta para o outro lado com o passo seguinte. Os passos do dinossauro batiam um ritmo lento e firme que ecoava no coração do Imperador Apatzec Itlimoc III.

Parte dele se perguntava se os Arautos do Rio pensavam que tomariam Orazca primeiro, mas o restante dele se lembrava como eles eram covardes sem tutano. Isso seria fácil.

A plataforma do imperador estava amarrada firmemente no altissauro mais resiliente do Império do Sol para a jornada até Orazca, que Apatzec aproveitou bastante. Como alguém da realeza, ele nunca tivera muitos motivos para sair do palácio. A plataforma cerimonial real ficara empoeirada com a falta de uso. O retorno de Huatli - e o dinossauro que ela trouxera - lhe deram todos os motivos que precisava para ordenar que a plataforma fosse limpa e preparada para sua jornada.

Apesar da insistência de Huatli para um acordo de paz, Apatzec sabia o que era dele por direito. Ele imediatamente enviara um batalhão com seus cavaleiros mais fortes para liberar a cidade, e agora estava a caminho para reivindicá-la em nome do Império do Sol.

A missão fora realizada sem tropeços. A cidade estava vazia. Os Arautos do Rio nem tentaram.

Acima das copas das árvores à frente dele, ele podia já discernir os espigões dourados de Orazca. Eles perfuravam o céu como agulhas, cintilando no sol da tarde como se fossem joias. Apatzec maravilhou-se com a vista, perguntando-se como os poetas do futuro descreveriam a cena. O imperador não tinha domínio sobre os floreios da linguagem. Tudo o que ele sabia é que ele estava satisfeito em conseguir fazer o que sua mãe não pôde.

Orazca se revelava para ele de ambos os lados agora. As árvores se abriram para mostrar pilares de ouro sem fim enquanto eles adentravam a cidade. Os edifícios se estendiam até o céu, alto o suficiente para fazer com que Apatzec se maravilhasse com a habilidade de seus ancestrais de fazerem construções tão altas. Até mesmo o altissauro de Apatzec passava facilmente sob o arco principal.

Com alguma assistência, Apatzec desceu da plataforma até o chão. A procissão cerimonial parara na base de um templo central, e centenas de cavaleiros estavam em formação esperando por sua chegada. Um sacerdote lhe cobriu os ombros com uma capa de penas, e pôs um cajado de âmbar em sua mão.

Apatzec sentiu o peso de seus ancestrais naquela capa. Ele sentiu a presença de uma longa linha de imperadores que o precedia, sentindo-se incomensuravelmente orgulhoso de ter reivindicado o que lhes fora perdido. Ele virou para o seu povo, e sorriu.

"Orazca é nossa novamente," disse ele. "Os três aspectos do sol brilham e assim começa uma nova era de conquista para o Império do Sol. Ixalan é nossa . . . E Torrezon será a próxima."


Rivais de Ixalan Arquivo das Histórias
Perfil da Planeswalker: Huatli
Perfil da Planeswalker: Saheeli
Perfil do Planeswalker: Angrath
Perfil da Planeswalker: Vraska
Perfil do Planeswalker: Nicol Bolas
Perfil do Planeswalker: Jace Beleren
Perfil do Plano: Ixalan


Magic Story voltará em Dominária.

Magic: The Gathering - Equipe Narrativa:

Autores – Alison Luhrs e Kelly Digges
Editor – Gregg Luben

Ixalan Desenvolvimento da História:

James Wyatt (Líder Criativo)
Chris L'etoile
Doug Beyer

Agradecimentos especiais a:

Jenna Helland
Ken Troop